Impactos do Covid-19 na educação e o cenário digital
07/08/2020 | Artigo
Desde o início da pandemia do novo Coronavírus, com a adoção de medidas mais rígidas de distanciamento social, um dos setores que vem sendo bastante afetado é o da Educação. Ao redor do mundo, escolas e faculdades fecharam suas portas e mandaram alunos e funcionários para casa, o que segundo a Unesco, representou um impacto para mais de 1,5 bilhão de estudantes (mais de 90% do total mundial).
O que em um primeiro momento parecia que iria durar poucos dias, logo trouxe um verdadeiro desafio para instituições de ensino. Como recuperar a carga horária de um currículo que era presencial sem a possibilidade de estar presente em sala de aula?
Foi assim que muitos países se viram obrigados a adotar, às pressas, modelos de ensino à distância. Na China, primeiro epicentro da pandemia e onde mais de 240 milhões de alunos foram afetados pela quarentena, o governo investiu em uma plataforma de ensino 100% virtual. Além disso, contou com a ajuda de grandes empresas chinesas da tecnologia para que o sistema suportasse até 50 milhões de acessos simultâneos.
O que no país asiático revelou ser um case de sucesso, no Brasil e em outros países, mostrou uma realidade bem diferente. Por aqui, a quarentena expôs uma série de fragilidades no nosso sistema educacional, principalmente no que diz respeito à desigualdade e o despreparo para situações de crise.
A realidade da educação no Brasil durante a pandemia
No Brasil, todos os estados suspenderam as aulas presenciais, substituindo-as por uma versão de ensino à distância emergencial e, em alguns casos, antecipando as férias escolares. Antes da pandemia, apenas 14% das escolas públicas tinham ambiente virtual de aprendizagem, porém o novo cenário fez com que 95% dos estados implementassem plataformas online para dar continuidade ao ensino.
Embora pareça promissor, esse avanço vem acompanhado de um dado importante: apenas 45% dos estados estão adquirindo pacotes de dados para que os alunos e professores tenham acesso gratuito ao conteúdo.
O que é preocupante quando contrastado com a recente pesquisa TIC Educação, que revela um cenário de dificuldade no acesso às plataformas online pelos alunos de escolas públicas. Segundo o levantamento, 39% destes estudantes não possuem computador ou tablet em casa e 21% acessa a internet somente pelo celular.
Além da desigualdade que fica ainda mais acirrada entre os estudantes, outra dificuldade bastante citada é o despreparo dos educadores para o ensino à distância. Uma pesquisa do Instituto Península, para a qual foram entrevistados mais de 7 mil professores brasileiros, revelou que 88% deles nunca tinham dado uma aula virtual antes da pandemia. Além disso, 83% dos profissionais afirmam se sentir pouco ou nada preparados para o ensino remoto.
A falta de familiarização com os recentes avanços tecnológicos na área da educação, aliada à necessidade de adaptação à realidade de cada estudante, tem feito com que as redes sociais e apps de mensagens, como o Whatsapp, sejam as principais formas de contato entre os professores, alunos e pais. A facilidade na comunicação e envio dos conteúdos (seja por vídeo, áudio, texto ou arquivo) é o principal motivo para a escolha dessas plataformas, embora não sejam as mais adequadas, segundo os especialistas.
E mesmo com todas as incertezas e dificuldades para que o ano letivo não seja perdido, os alunos ainda têm mais um desafio pela frente: a realização do Enem. Segundo um levantamento do Instituto Unibanco, a maioria dos países cancelou ou adiou os seus exames nacionais. No Brasil não foi diferente: após pressão de estudantes e parlamentares a prova foi adiada para o ano que vem. Dos 5,8 milhões de candidatos inscritos, 96 mil farão a prova digital.
Cenário favorece o crescimento das edtechs
Embora não seja um momento de prosperidade em nenhum mercado, a quarentena e seus desafios trouxeram lições importantes sobre os benefícios da tecnologia em diversos setores. E não foi diferente na Educação, onde muitas escolas e faculdades tiveram que recorrer aos serviços das edtechs, as startups que aliam educação e tecnologia.
Um levantamento da Future Education aponta que 48% das instituições de ensino entrevistadas contrataram uma ou mais soluções de edtechs para auxiliar o processo de ensino e aprendizagem durante o período de quarentena. A maioria delas está usando a licença gratuita que as startups ofereceram, devido ao momento de crise.
Além de uma forma de contribuir e estender a mão nesse momento tão delicado, as edtechs também enxergam esse período de experiência como uma forma de se fortalecer no mercado. Segundo os dados do Future Education, a expectativa é grande: 68% dos fundadores de edtechs estão otimistas para o futuro e acreditam que haverá aumento da demanda no setor.
Um mercado que já estava aquecido – as edtechs tiveram um crescimento de 23% nos últimos três anos -, com certeza foi potencializado pela quarentena e a necessidade de soluções inovadoras para contorná-la. E deve trazer frutos para o futuro: segundo o Ibis Capital, a estimativa é de que o mercado de edtechs deverá crescer em torno de 17% até o final do ano, com faturamento superior a R$ 1,5 trilhão no mundo todo.
Atualmente, 70,6% das edtechs brasileiras atuam no ramo de educação básica (ensinos infantil, fundamental e médio), seguidas pelas que oferecem cursos livres, as de ensino superior e as edtechs do mundo corporativo. Ou seja, ainda há muito mercado para ser explorado e oportunidades de crescimento para as startups desse ramo.
Principalmente, considerando o cenário cada vez mais incerto de retorno às atividades. Segundo dados da UNESCO, 100 países ainda não têm previsão de reabertura das escolas, 65 estão planejando reabrir total ou parcialmente e outros 32 decidiram concluir o ano acadêmico online.
Independentemente dos resultados dessa quarentena, o que sabemos é que daqui pra frente existirá um novo normal. E na Educação, isso significa a urgência de se preparar para os avanços tecnológicos e investir em soluções mais criativas e inclusivas de ensino, mesclando as novas ferramentas com as metodologias atuais.
Embora o ensino à distância que se tem hoje, na quarentena, seja emergencial e nem sempre o mais adequado, ele é uma amostra do que vem por aí – e reflete a importância da qualificação dos profissionais do ensino, a adaptação das instituições e a inclusão dos estudantes de todas as camadas sociais nesse novo cenário de transformação digital do setor.