Impacto do Coronavírus no Setor de Logística
12/08/2020 | Artigo
O distanciamento social por conta do novo Coronavírus no país trouxe uma transformação no consumo dos brasileiros. Com o isolamento social, as pessoas passaram a usar mais os serviços de e-commerces e delivery.
Enquanto este lado da balança cresce no consumo de diversos segmentos, outras empresas de varejo que antes não atuavam online viram no sistema de entregas uma forma de se manter faturando durante a quarentena. Com o novo cenário, empresas passaram a investir em marketing digital e ações de vendas em sites próprios ou em plataformas de marketplace, como Amazon e Mercado Livre.
Enquanto o setor de entregas leves e rápidas aumentou, os serviços de logística e transportes de cargas maiores viram a demanda cair consideravelmente. Segundo o ILOS, Instituto de Logística e Supply Chain, os custos logísticos no Brasil equivalem a 12,2% do PIB e representam quase 10% do faturamento das empresas nacionais.
Transporte de cargas
De um lado, o comércio eletrônico registra aumento nas vendas. De outro, empresas de transportes de carga pesada viram a demanda cair drasticamente. O principal fator foi a interrupção de importação e exportação de insumos vindos de parceiros econômicos do Brasil, como China e Estados Unidos.
O DECOPE (Departamento de Custos Operacionais) da NTC&Logística, a Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística, divulgou uma pesquisa que mostra que 94% das empresas de transportes rodoviários de cargas tiveram queda no faturamento desde o início da pandemia. O levantamento, feito na segunda semana de maio deste ano, revelou que o setor comercial de lojas apresenta o pior desempenho, com uma baixa de quase 60%. O setor de alimentos refrigerados teve queda de quase 20% e o agronegócio, cerca de 30%.
A TruckPad, empresa de logística que conecta clientes com caminhoneiros autônomos, fez um estudo que mostra queda de 35% no volume de cargas em relação à movimentação normal desde o início do isolamento social. Foram entrevistados cerca de 10 mil contratantes de fretes, e os resultados apontam baixa de 40% nas entregas feitas em estabelecimentos comerciais como lojas de ruas e de shopping centers.
Não é só o transporte rodoviário que sofreu as consequências da crise causada pela COVID-19. A área de importação e exportação também está comprometida, com portos, docas e armazéns da China acumulando produtos prontos para serem enviados. Para se ter ideia, em três semanas de paralisação das atividades portuárias chinesas, houve uma queda de mais de 95% no movimento de contêiners. Em consequência disso, o mundo inteiro sentiu o impacto na diminuição de produtos importados distribuidos no mercado.
O novo cenário causado pela pandemia global forçou um movimento das empresas rumo à digitalização dos serviços. De acordo com a empresa de tecnologia e soluções em logística Intelipost, a tendência é aumentar a adoção de tencologias inteligentes para esclarecer as operações de logística das empresas, com decisões mais assertivas e reações instantâneas a novas futuras crises que possam surgir.
Delivery
O setor de delivery de restaurantes ganhou mais força durante a quarentena. A demanda de pedidos no iFood, por exemplo, passou de 26 milhões em novembro de 2019 para 30,6 milhões em março deste ano, no início do isolamento. O número de restaurantes que entraram para os serviços do aplicativo também cresceu: de 130 mil para 160 mil ao longo deste período. Além disso, a empresa colocou R$100 milhões à disposição em um fundo de apoio para restaurantes durante a pandemia.
De acordo com uma pesquisa feita pela AppsFlyer, os downloads de aplicativos de delivery cresceram 700% durante a quarentena somente na cidade de São Paulo. O estudo foi feito entre o início de fevereiro até o fim de abril deste ano, envolvendo 12 categorias de aplicativos. Além do iFood, outras startups de entregas rápidas também registraram aumento na demanda, como Uber Eats, Rappi e Loggi. Os pedidos são, além de restaurantes, para supermercados e farmácias.
Desde o início da quarentena, as startups de delivery tomaram providências de cuidados com kits de higienização para os entregadores e pedidos entregues sem ter contato direto com o cliente.
E-commerce
A pandemia global trouxe uma mudança de comportamento do consumidor diante das opções de compras online. Segundo a ABComm (Associação Brasileira de Comércio Eletrônico), o e-commerce aumentou sua base de usuários em 70%. Este crescimento, que ocorreu em apenas três meses, levaria cerca de 10 anos para ocorrer em condições normais.
O Mercado Livre, por exemplo, acelerou a contratação de funcionários com o aumento da demanda nas vendas. De acordo com dados, a empresa já atingiu o número que estava previsto para ser alcançado em novembro deste ano. Já o setor de supermercados virtuais registrou um aumento de quase 200% na demanda entre março e abril. Somando com o segmento de farmácias, o índice chega a cerca de 300% no Brasil.
Com um crescimento de mais de 80% em relação ao ano passado, o e-commerce brasileiro faturou, somente em abril, mais de R$9 bilhões, de acordo com a Compre&Confie. Segundo um levantamento da SBVC, Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo, 70% dos consumidores pretendem continuar comprando online quando a quarentena acabar.
Em entrevista ao InfoMoney, o CEO do Magazine Luiza, Frederico Trajano, afirma que a mudança para o digital veio para ficar na maioria dos segmentos. Segundo ele, o espaço físico das lojas pode ser aproveitado para agilizar e otimizar as entregas de compras virtuais, sendo o diferencial para a logística da empresa.
Em parceria com a ABComm, a Konduto divulgou uma pesquisa que analisou mais de 25 milhões de pedidos de mais de 4 mil lojas virtuais entre 1º de março e 25 de abril de 2020. Nas primeiras semanas houve queda em várias categorias do e-commerce, até que as pessoas começaram a entender o novo cenário e a curva passou a subir. No mês de abril, o crescimento chegou a 47%.
Autora: Renata Crawshaw